Passos Contados 2010
Passeios pedestres de interpretação da paisagem
Cacela - Vila Real de Santo António
Organização:
Câmara Municipal de Vila Real de Santo António
Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela
Começa em Abril em Cacela a 4ª edição do ciclo anual de passeios pedestres de interpretação da paisagem “Passos Contados”.
Passos Contados... porque os caminhos, os lugares, as pessoas contam estórias. O Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela / CMVRSA propõe este ano novas experiências de interpretação e descodificação das paisagens culturais e naturais do sotavento algarvio. Nesta quarta edição iremos à descoberta das plantas e dos seus antigos usos na medicina e alimentação; das heranças islâmicas nas formas de construir e habitar; de antigos caminhos, muros e valados; vamos durante a noite ouvir lendas sobre os antigos medos de bruxas e lobisomens; com os pés na água vamos apanhar e conhecer os bivalves da Ria Formosa; já no final do Verão vamos colher figos, e compreender a sua importância, a par da amêndoas e alfarroba, na história local; terminaremos com um percurso geológico sobre alterações no uso e ocupação do território.
17 de AbrilPlantas medicinais e aromáticas do barrocal e serra algarvia
Ponto de encontro: 09h30 em Santa Rita
Com o mestre José Salgueiro
Existiu até há bem pouco tempo, nos meios rurais, um saber empírico, transmitido de geração para geração, sobre as propriedades medicinais das plantas. Nascido no Alentejo, Mestre Zé Salgueiro, filho de trabalhadores rurais, recebeu os saberes dos ensinamentos da mãe, de virtuosos, pastores e artífices que partilhavam o universo da medicina popular. Experimentou ao longo da vida os trabalhos do campo, a venda ambulante, o ofício de sapateiro e aos 50 anos resolveu assumir as suas paixões maiores: as plantas e a poesia. Com larga experiência na colheita e utilização de ervas para fins medicinais e um conhecimento acumulado ao longo de mais de 90 anos intensamente vividos, tem um genuíno prazer em transmitir os seus valiosos saberes.
22 de Maio
Heranças islâmicas nas formas de construir e habitar
Ponto de encontro: 9.30 em Cacela Velha
Com o historiador Cláudio Torres
A casa rural do sul de Portugal – profundamente ligada ao relevo, clima, matérias-primas e tradições culturais – tem raízes no mundo mediterrânico antigo no que respeita à repartição funcional, técnicas construtivas, pormenores decorativos e formas de habitar. No Algarve, durante o período islâmico, a taipa serviu para a construção de estruturas defensivas (fortificações, muralhas) e habitações. Nas casas postas a descoberto pela arqueologia, a telha de meia cana assentava, como hoje, numa cobertura de caniço e espessos muros de taipa, que protegiam do calor intenso e, também como as habitações populares actuais, apresentavam revestimentos com cal e os pavimentos eram pintados a almagre. Encerradas sobre si com raras aberturas ao exterior, preservando a intimidade dos moradores, era nos pátios que a mulher se ocupava dos trabalhos domésticos, da confecção dos alimentos e da educação das crianças. Modos de viver e habitar a casa, que no sul se perpetuaram no tempo.
Ao longo de um percurso com início no bairro islâmico almoada em cacela velha, vamos reflectir sobre o valor de uma herança transmitida por mestres, pedreiros, aprendizes que sabiamente manipulam a terra, numa utilização harmoniosa dos recursos oferecidos pelo meio.
Ao longo de um percurso com início no bairro islâmico almoada em cacela velha, vamos reflectir sobre o valor de uma herança transmitida por mestres, pedreiros, aprendizes que sabiamente manipulam a terra, numa utilização harmoniosa dos recursos oferecidos pelo meio.
26 de Junho
Antigos caminhos, muros e valados no sotavento algarvio
Ponto de encontro: 9.30 em Santa Rita
Com o historiador Luís Oliveira e o arqueólogo João Pedro Bernardes
Os caminhos, muros e valados encerram uma história e informações fundamentais para compreendermos os tipos de propriedade, os seus limites, trânsito de pessoas, animais, mercadorias, bem como de notícias e ideias. Entre núcleos povoados, lugares e fazendas, uma densa rede de caminhos, alguns remontando seguramente ao período romano – por cacela passava a via romana que ligava Baesuris a Ossonoba – tem assegurado o movimento dos homens, a concentração e distribuição de produtos. Estradas, caminhos, veredas, atalhos riscam a paisagem e guardam as marcas de quem os calcorreou a pé, de besta, de carro de bois ou carroça. Memórias antigas ligadas ao escoamento da produção mineira, dos produtos agrícolas das antigas villae ou, mais recentemente, dos frutos secos do barrocal algarvio. Evocam o receio das emboscadas de quadrilhas de ladrões, guardam os passos dos almocreves com pesada carga, dos vendedores de conquilha errando de lugar em lugar, dos pastores conduzindo os seus rebanhos em busca do melhor pasto, das carroças puxadas por muares apregoando a cal de Santa Rita, mais branca que as demais, do pessoal da serra no final de Agosto em direcção à praia para o banho santo.
10 de Julho
Bruxas, lobisomens e mouras. Medos nocturnos na tradição oral
Ponto de encontro: 21.30 em Santa Rita
Com o contador António Fontinha, a arqueóloga Catarina Oliveira e habitantes locaisBruxas, lobisomens, mouras, almas do outro mundo povoam o imaginário dos medos nocturnos das populações rurais. Estórias e lendas registam encontros fugazes de homens e mulheres com estes seres em determinados dias, horas e lugares. Acontecem usualmente em espaços exteriores à aldeia, conotados com a natureza e o perigo (penedos, fontes, poços, encruzilhadas, alfarrobeiras escuras). É também em horas abertas, normalmente próximo de meia-noite, que as bruxas e os lobisomens se transformam em animais, e que as mouras saem das entranhas da terra e se deixam descobrir. Nas zonas rurais mais isoladas, onde as noites são ainda escuras como o breu, alguns destes seres encontram refúgio, permanecendo vivos nas estórias e lendas contadas de boca em boca.
28 de Agosto
Com os pés na água à procura dos bivalves da Ria Formosa
Ponto de encontro: 9.30 em Cacela Velha
Com a bióloga marinha Paula Moura, viveiristas e mariscadores locais
vestígios de tanques para salga de pescado e preparação de pastas de peixe do período romano, e fragmentos de cerâmicas de cozinha islâmicas associados a cascas de conquilhas, ostras e amêijoas, atestam a antiguidade da exploração dos recursos do mar e da ria e a sua importância na dieta alimentar das gentes de cacela. Mariscadores e populações locais têm-se dedicado ao longo de muitos séculos à apanha de conquilhas, amêijoas, berbigão, lingueirão, cascabulhos (ostras) e búzios. Durante a maré vaza, continuamos a vê-los com água pela cintura puxando um arrasto na frente mar, no caso das conquilhas, com uma pá de mariscar cavando na lama da ria para apanhar amêijoa, ou com uma adriça para apanhar o lingueirão. Os cascabulhos, muito abundantes, apareciam agarrados às pedras ao longo da ria e nos períodos de carestia vividos durante a primeira grande guerra foram a base da alimentação do pessoal da serra que se deslocava ao litoral levando as albardas dos burros sempre cheias. Hoje, a paisagem da ria é marcada pelos viveiros de amêijoa e especialmente de ostra, iguarias recentemente revalorizadas nas ementas que se oferecem aos visitantes.
18 de Setembro
O figo, a amêndoas e a alfarroba no barrocal algarvio
Ponto de encontro: 9.30 em Santa Rita
Com o historiador António Rosa Mendes e produtores locais
Os campos do Algarve, escrevia por volta de 1750 Damião faria e castro (um dos raros escritores algarvios no século XvIII), produzem “inumerável quantidade de figos, passas, amêndoas…”. E noutro passo, referindo-se ao figo, assinala a “muita abundância deste fruto, que é a produção principal do Reino do Algarve”. Assim sempre fora e assim continuaria a ser colhido no verão, o figo ficava a secar no almanxar (termo que é inútil procurar nos dicionários, vem do árabe, al-manxar). Depois, quando não ia para o fumeiro, era enseirado – isto é, metido em seiras, pequenos cestos, e aí calcado; por cima, uma folhinhas de funcho, planta aromática e conservante. Trabalho feito por mulheres, elas é que enseiravam. Matava a fome à pobreza.
Perguntem quantos, mas quantos!, saíam manhã cedo para a labuta só com uma machinha de figos no fundo da algibeira…
9 de Outubro
Alterações no uso e ocupação do território: uma perspectiva geológica
Ponto de encontro: 9.30 em Cacela Velha
Com o geólogo Hélder Pereira
Ao longo de um percurso efectuado da serra para o litoral, passando pelo barrocal, miúdos e graúdos irão realizar uma viagem no tempo. Durante algumas horas poderão observar os vestígios deixados pelos nossos antepassados e ainda o que a paisagem, os afloramentos e as rochas, têm para nos contar acerca das alterações nos usos e ocupação do território de cacela ao longo dos últimos milhares de anos.
Inscrições e Informações:
Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela
Antiga Escola Primária de Santa Rita
Tel. / Fax: 281 952600
ciipcacela@gmail.com
http://ciip-cacela.blogspot.com
http://www.cm-vrsa.pt/
As participações são gratuitas e limitadas.
Inscreva-se com antecedência, deixando o seu nome e contacto
Passos Contados 2007 / 2008 / 2009
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