Passos Contados - Passeios pedestres de interpretação da paisagem.
Cacela, Vila Real de Santo António, 2007.
Passos Contados... porque os caminhos e os lugares contam estórias – a fonte da moura, o forno para cozer a cal, sinais dos romanos, árabes e outros povos – e ouvi-las passo a passo, conduzidos pela voz de guias especializados (cientistas ou detentores de saberes particulares), é o desafio destes percursos.
O ciclo anual de passeios pedestres temáticos no concelho de Vila Real de Santo António e especialmente em Cacela, é uma proposta do Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela / Câmara Municipal de Vila Real de Santo António. Nesta primeira edição (2007) vamos à descoberta dos últimos barcos de Cacela, de plantas medicinais e aromáticas no sopé da serra, de fontes, canhas e noras nas hortas do barrocal, das marcas do passado em Cacela Velha, das arquitecturas do Algarve rural e finalmente de fósseis na ribeira de Cacela.
Os percursos realizam-se aos sábados de manhã, entre Março a Setembro. Deverá trazer merenda, cantil com água, calçado confortável, roupa leve e apropriada, chapéu e protector solar.
Últimos barcos e artes da pesca em Cacela
Com Teresa Patrício, Sofia Trincão e pescadores locais
17 de Março
Ponto Encontro: 9.30 em Cacela Velha
Estão a desaparecer os últimos barcos de pesca artesanal da ria. Botes, chatas, saveirinhos ou dolis, alcatruzes, cabanas, redes e muitos pescadores faziam parte da paisagem de Cacela. No mar alto ou repousando nos areais, os barcos de madeira, baptizados com nomes expressivos (Já te apanho, Duas irmãs, Vencemos, Já vai,...) viam, ano após ano, a sua pintura renovada pelas mãos dos pescadores. Alguns contam longas viagens pela costa de Marrocos ou pelos mares da Terra Nova na pesca do bacalhau. Estão ainda vivas memórias de pescarias fartas de salmonetes, robalos, douradas, polvo, lulas, chocos...; do marisco abundante (berbigão, amêijoa, lingueirão); das antigas artes como a palangrinha, as teias de alcatruzes ou os tresmalhos.
A pesca foi sendo progressivamente substituída pela mariscagem. A partir dos anos 60 multiplicaram-se na ria viveiros de amêijoa e ostras. Os barcos têm sido condenados ao abate, um após o outro.
O percurso começa com a apresentação do documentário “Praia da Lota (1989-2000)” por Sofia Trincão, e termina com uma visita aos “Navegantes” da artista plástica Teresa Patrício.
Plantas medicinais e aromáticas no barrocal e serra algarvia
Com o Mestre José Salgueiro
28 de Abril
Ponto Encontro: 9.30 em Santa Rita
Percurso de descoberta das plantas do barrocal e serra algarvia, guiado pelo saber de um mestre no estudo, colheita e utilização das plantas para fins medicinais. Nascido no Alentejo, filho de trabalhadores rurais, recebeu os seus saberes dos ensinamentos da mãe, de pastores e de artífices que partilhavam o universo da medicina popular. Experimentou ao longo da vida, os trabalhos do campo, a venda ambulante, o ofício de sapateiro e aos 50 anos resolve assumir as suas paixões maiores: as plantas e a poesia. Com um conhecimento acumulado ao longo de 88 anos intensamente vividos, Mestre Zé Salgueiro tem um genuíno prazer em transmitir os seus valiosos saberes.
Nos trilhos da água. À descoberta de fontes, poços, noras, cisternas, tanques e represas
Com o historiador Luís Oliveira
26 de Maio
Ponto Encontro: 9.30 em Santa Rita
Como se elevava a água dos poços e rios? Como era conduzida para a rega de hortas e pomares? Que cultos e crenças permanecem ligados às fontes e poços?
No período islâmico, extensas zonas do Algarve, antigo Garb al-Andaluz, converteram-se em campos férteis pela tecnologia hidráulica dos muçulmanos. Habituados ao deserto, sabiam tirar o máximo partido da pouca água disponível. Introduziram e difundiram sistemas de elevação (noras, azenhas), construíram aquedutos e transformaram os campos em áreas irrigadas e férteis com jardins, hortos e pomares.
Minas, canhas, poços, noras, aquedutos, tanques, cisternas e represas marcam e identificam, ainda hoje, a paisagem algarvia, em especial no barrocal.
Cacela Velha no Garb al-Andaluz. O que os objectos desenterrados nos contam
Com a arqueóloga Cristina Garcia
16 de Junho
Ponto Encontro: 9.30 em Cacela Velha
Cacela, Qast’alla islámica, entre os sécs. X e XIII é o centro de um distrito rural bem povoado. Terras férteis, hortas e pomares ladeiam a costa de águas calmas que permite pesca e recolha de moluscos em abundância. Os vestígios arqueológicos desta época comprovam a densidade de povoamento rural, disperso pela planície até ao barrocal.
Em 1239, Cacela foi conquistada aos almóadas por D. Paio Peres Correia e doada por D. Sancho II à Ordem Militar de Santiago da Espada.
Actualmente, Cacela Velha preserva sugestivos testemunhos daquela época na arquitectura, nos achados arqueológicos e nas fontes históricas, que iremos observar e descodificar.
Patrimónios do habitar. Construções rurais, técnicas e materiais
Com a equipa do Gabinete Técnico de Apoio às Aldeias do Sotavento
7 de Julho
Ponto Encontro: 9.30
Na Serra Algarvia o povoamento organiza-se em assentamentos designados por montes ou alcarias. O casario e dependências associadas (fornos, fornalhas, pocilgas, galinheiros, eiras, poços…) testemunham uma arquitectura rural marcada pelo relevo, clima, tradições culturais e matérias primas.
Num percurso pelos montes da Serra, em processo de desertificação, procuraremos ler as arquitecturas do habitar tradicional, identificando materiais e práticas construtivas antigas – construções em alvenaria de pedra, terra (taipa e adobe), coberturas de elementos vegetais, revestimentos com cal – e descobrindo memórias e vivências...
Num percurso pelos montes da Serra, em processo de desertificação, procuraremos ler as arquitecturas do habitar tradicional, identificando materiais e práticas construtivas antigas – construções em alvenaria de pedra, terra (taipa e adobe), coberturas de elementos vegetais, revestimentos com cal – e descobrindo memórias e vivências...
Uma viagem no tempo observando rochas e fósseis em torno de Cacela
Com o geólogo Hélder Pereira
15 de Setembro
Ponto Encontro: 9.30
A Jazida fossilífera de Cacela, de reconhecido valor científico e patrimonial, localiza-se na extremidade nascente do Parque Natural da Ria Formosa e está sobretudo exposta nas margens da ribeira de Cacela situada a nascente de Cacela Velha. Ali afloram rochas sedimentares do Miocénico superior, com cerca de 7-9 milhões de anos (Ma), em que ocorre uma grande diversidade de fósseis de moluscos bivalves e gastrópodes em excelente estado de conservação.
A presença de fósseis de espécies típicas de águas quentes indica que a região de Cacela há cerca de 7-9 Ma seria banhada por águas mais quentes do que as actuais, com temperaturas semelhantes às encontradas hoje nas regiões tropicais. Um percurso em torno da região de Cacela irá permitir realizar uma viagem no tempo recuando alguns milhões de anos atrás.
A presença de fósseis de espécies típicas de águas quentes indica que a região de Cacela há cerca de 7-9 Ma seria banhada por águas mais quentes do que as actuais, com temperaturas semelhantes às encontradas hoje nas regiões tropicais. Um percurso em torno da região de Cacela irá permitir realizar uma viagem no tempo recuando alguns milhões de anos atrás.
Contactos:
Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela
Antiga Escola Primária de Santa Rita
8900-059 Vila Nova de Cacela
Vila Real de Santo António
Tel. /Fax. 281 952600
ciipcacela@gmail.com
http://www.cm-vrsa.pt/
http://ciip-cacela.blogspot.com/
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