quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Portugal 2050 – Pedestrianismo na rota do digital.

Nos últimos meses tem se assistido a um acréscimo significativo do número de queixas face ao aumento de publicidade nos percursos pedestres. Ainda há uns dias um casal se queixava do seguinte modo:

«Estávamos na ponte da Misarela com os miúdos, a filmar, e de súbito surgiu um vídeo holográfico de grande dimensão a publicitar os novos vídeos-jogos infantis da Toys'R'Us. Nunca mais tivemos sossego! O mais novo não se calou o resto do percurso a dizer que queria o novo modelo, quando ainda há 2 semanas lhe comprámos um bem jeitoso!» contou a mãe ao que o marido aduziu «Sim, porque nós tínhamos escolhido a opção do percurso com publicidade moderada e aquilo era mais uma avalanche! Logo umas centenas de metros adiante estávamos a atravessar um pequeno riacho diante de uns belos exemplares de carvalho alvarinho quando nos surge novo vídeo holográfico anunciando a saída da nonagésima colectânea do “Quim Barreiros” com novos remixes. Mas que exemplos são aqueles para as nossas crianças? Definitivamente tornou-se impossível apreciar os espaços naturais com este sufoco de anúncios. E para além isso o usufruto de 'Publicidade Zero' nos percursos é só para a carteira dos ricos.»

Na realidade, sobretudo ao ECI (Instituto Europeu do Consumidor) e à PNP (Património Natural de Portugal) têm chegado cada vez mais queixas relativas ao significativo aumento da publicidade nos percursos, mas também sobre grupos juvenis que percorrem ao fim-de-semana as áreas de maior tráfego dos percursos pedestres apenas para causar desacatos e danificar o que lhes surge pela frente, ou do excessivo número de vendedores ambulantes, mendigos, seitas religiosas, e até de políticos que aproveitam a maior disponibilidade de tempo das pessoas para lhes impingiram os seus produtos, mais ou menos materiais.


Todos sabemos que hoje já não restam quaisquer percursos para se inventar, e em nenhuma parte da superfície terrestre, desde os pólos às florestas tropicais. A esse propósito, foi lançado esta semana no nosso país um novo software, o UltraTrekker, da Sony, usando tecnologia Toryl, que apresenta já a capacidade de projectar acima de 3 mil percursos pedestres diferentes por cada 500 Km2, através de múltiplas combinações de locais. Ao leque de opções do utilizador também foi acrescido novas opções como “tipo de fauna” ou “tipo de piso” ou mesmo “índice de poluição” ou “índice de delinquência”.

O UltraTrekker vem apetrechado de inúmeros conteúdos digitais, podendo ser criado uma imagem holográfica de um Guia (a 3 dimensões) que nos acompanha e nos vai descrevendo (a nível paisagístico, ecológico, geográfico, cultural, histórico, etc.) os lugares por onde vamos passando, recorrendo para isso a uma imensa gama de elementos multimédia. Por outro lado, este guia virtual, apresenta-nos múltiplas sugestões de modo que podemos a qualquer momento mudar a rota antes definida. Na versão Premium do UltraTrekker pode mesmo ficar registado em vídeo toda a caminhada que realizamos (nem que seja para mais tarde recordar..)

Nas zonas de maior protecção ambiental, como é o caso de algumas áreas do Parque da Peneda-Gerês, da Serra da Estrela ou do Marvão ficou regulamentado que o Ultratrekekr apenas poderá definir até 50 percursos por cada 200km2, restringindo mesmo o seu alcance em algumas zonas mais recônditas, de modo aliviar a pressão turística e de lazer sobre essas zonas. Aliás, nas áreas de maior protecção ambiental os percursos passíveis de serem percorridos estão definidos de modo deveras rígido. Aos infractores (entenda-se pessoas que se desviam dos percursos autorizados) é-lhes imputado dezenas de horas de trabalho comunitário, nomeadamente na recolha de lixo desses e de outros percursos.


Entretanto, decorre uma interessante exposição no antigo Centro Interpretativo do Mezio, sobre a 1ª geração de percursos pedestres, na altura (até finais da década de 20) ainda sinalizados com marcas de tinta. Podem ainda ser realizadas viagens virtuais por esses percursos sentindo a vegetação, vendo os animais, as casas, os campos agrícolas como eram há cerca de quatro décadas atrás.

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