sexta-feira, junho 08, 2007

Caminhadas à noite no distrito de Leiria com elevada participação.


As caminhadas à noite estão na moda.
Centenas de pessoas, nas cidades e aldeias do distrito, trocam os sofás pelos passeios nocturnos, como forma de aliviar a tensão do dia-a-dia. Aproveitam para eliminar os quilos a mais e seguem as instruções dos especialistas, que recomendam a actividade física. Para combater o sedentarismo e as doenças cardiovasculares.

Em Leiria, Pombal e Marinha Grande já há locais de encontro para os caminhantes. Que cada vez são mais. Já há quem chame aos passeios os comprimidos para o stresse.

“Mexa-se! Parar é morrer”, ou simplesmente “Vá passear! Ponha-se a andar! Vá dar uma volta”. Estes são os lemas que mais se ouviram durante o último mês, dedicado às doenças do coração. Mas desenganem-se os que pensam que só em Maio são aceites estas recomendações. Durante todo o ano, há um número significativo de pessoas que faz da prática de caminhar um hábito diário. São dezenas de mulheres e homens que todos os dias, ao fim do dia ou pela madrugada, saem de casa, equipados com roupa e calçado prático, para passear pelas várias cidades do distrito. É uma luta contra o sedentarismo e, consequentemente, a obesidade. Para a maioria, os médicos já nem têm de aconselhar. Todos sabem o que é bom para a saúde e já não passam sem a voltinha pelo chamado “calçadão”, ignorando o barulho dos carros, a poluição dos escapes e mesmo os maus cheiros que emanam da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), nas Olhalvas. Isto no caso de Leiria.

Todas as noites, os passeios entre as rotundas do hospital de Leiria e do Mc Donald’s enchem-se de gente que procura eliminar a celulite, enrijecer os músculos ou conviver com os amigos. “Faço ginástica e fica muito mais barato”, afirma Fátima Silva, 33 anos, escriturária, que confessa não poder passar sem o seu passeio diário. Após um dia de trabalho, “não há nada melhor que fazer uma caminhada para combater o stresse”, afirma, reconhecendo que quando chega a casa depois do passeio, está pronta para fazer o jantar e preparar roupas para o dia seguinte. “Fico bem disposta e faço as coisas sem qualquer sacrifício”, afirma, adiantando que o marido e a filha adolescente aproveitam também para treinar. “Agora como de tudo um pouco e o meu peso é sempre o mesmo”, conta.

Entre seis e sete quilómetros é quanto percorre Fátima Silva sempre acompanhada de Sara Pires, 23 anos. Começou por caminhar sozinha, mas depressa juntou mais de dez mulheres ao grupo. O problema é que a maioria não é disciplinada e acaba por desistir. “Nós não desistimos, até porque parar é morrer”, dizem.

Sara Pires, uma das resistentes, recorda que actualmente as mulheres se preocupam em cuidar mais delas, até porque os próprios homens também o fazem, ou nos ginásios, ou nos campos de futebol, em treinos com os amigos. “Temos que nos preocupar com a nossa linha por causa da concorrência”, desafia, irónica, Sara Pires, lembrando que “quando as mulheres deixarem de ser vaidosas, o mundo torna--se feio”.

Ivone Matos, 55 anos, sai todos os dias de casa, em S. Romão, mas já com o jantar tomado. Como é doméstica, pode fazer a refeição e comer o mais cedo possível. “Não me sento no sofá a ver telenovelas, isso engorda muito”, refere, lembrando que andar, além de emagrecer, ajuda a melhorar a circulação e a tornar as pessoas mais activas. “Não me queixo com dores nas cruzes (costas), nem tenho celulite”, diz, sorridente, a caminhante que dá a volta a toda a cidade, havendo noites em que chega quase ao Vidigal com a sua colega.


Família Praxedes lamenta falta de segurança em certos locais
Faz hoje oito dias, Maria Helena Praxedes recomeçou as caminhadas que interrompeu no Inverno. A partir de agora, ela, o marido e a filha vão passar a caminhar meia hora por dia, por recomendação do médico. “Fui operada ao coração e faz-me bem andar, mas não posso exagerar”, explica, confessando que também quer emagrecer. Apenas lamenta que os percursos previstos junto ao rio, no âmbito do Programa Polis, não estejam sequer começados. As pessoas que pretendam sair de casa para passear, são obrigadas a fazê-lo nos passeios na cidade, ou então em S. Romão, junto à ETAR. Mas aí “apanham com os maus cheiros”, diz, referindo-se ainda aos perigos que se correm quando há necessidade de atravessamento das vias.

Quanto ao Marachão, José Praxedes, que caminha porque quer emagrecer e sentir-se mais novo, queixa-se da falta de segurança de uma das zonas mais bonitas da cidade. “Para caminhar ali, seria necessário mais policiamento e mais iluminação, porque há pessoas que só podem sair de casa à noite”, afirma o oficial da Força Aérea aposentado, considerando que esta é a melhor terapia para combater o stresse. “O Marachão é mais problemático para os velhos, que não têm tanta mobilidade e por isso não podem defender-se de quem os aborde para lhes fazer mal”, afirma.


Marachão é local de eleição
Apesar da alegada falta de policiamento no Marachão, há quem não dispense aquele local para fazer as suas caminhadas. Entre as centenas de pessoas, a professora Leonor Oliveira, 44 anos, casada, é uma das que não desiste do passeio nocturno, pela “necessidade absoluta de fazer exercício físico”, face à vida sedentária que leva. Além disso, considera que sair de casa lhe faz bem e a distrai a todos os níveis.

Leonor Oliveira, acompanhada de duas amigas - entre elas Maria José, 36 anos, solteira, técnica do gabinete do Plano Director Municipal da Câmara de Leiria - percorre o Marachão quatro vezes por noite e chega a casa “tranquila”. Quanto à (in)segurança do local, a docente responde que não tem essa sensação, contrariamente ao que acontecia anteriormente. “Toda a gente faz a sua vida e não se mete com ninguém”, diz.

Fora das cidades, é também comum verem-se grandes grupos de pessoas a caminhar. Exemplo disso é o casal Armando e Idalina Fernandes, de Regueira de Pontes, que todos as noites após o jantar faz dos passeios nocturnos o seu momento de distracção preferido. Há mais de dez anos, Armando Fernandes, 55 anos, e a mulher, saem de casa e percorrem algumas ruas da freguesia, em busca de algum alívio para o stresse e de uma forma saudável de perder alguns quilos. Quando iniciaram as caminhadas, encontravam pouca gente pelo caminho. Agora, deparam-se com caminhantes em quase todas as esquinas. “Todos, novos e velhos, deviam convencer-se que não é preciso o médico mandar. Está mais que provado que comer e sentar em frente à televisão é péssimo para a saúde”, alerta Armando Fernandes.


Pista até S. Pedro de Moel
Lina Abegão, 62 anos, reside na Marinha Grande, e faz cerca de 13 quilómetros por noite. Desloca-se do centro da cidade em direcção a Pedreanes e daí até S. Pedro de Moel. Domingo de manhã é o seu dia preferido para as caminhadas, mas há noites, principalmente no Verão, em que não resiste. Habitualmente vai sozinha, aproveitando os percursos para ciclistas ao longo da estrada de S. Pedro de Moel. “Foi uma das melhores obras que fizeram no concelho”, afirma a administrativa, que considera as caminhadas os seus comprimidos para o stresse. Faz ainda natação e anda de bicicleta. Há muitos anos. Actividades que transmitiu à filha, que é professora de Educação Física, e ao marido que a acompanha sempre que pode. “São muitas dezenas de pessoas já a fazer estes passeios, o que é muito bom para a saúde”, diz.


Pombal já tem pegadas
As caminhadas à noite alargam-se a todo o distrito, havendo concelhos onde as Câmaras Municipais já designaram locais próprios para este efeito. Em Pombal, a grande quantidade de pessoas que passeia à noite pela cidade levou a autarquia a criar percursos pedonais, explica o vereador Fernando Parreira. Sexta-feira passada foi inaugurado o primeiro de cinco locais, onde os praticantes das caminhadas podem usufruir “de liberdade, espaço e ar puro”.

Foram espalhadas pegadas de várias cores no chão, de modo a que os cidadãos possam seguir trajectos seguros. Além disso, foram colocados placard´s com informação sobre as distâncias percorridas, o grau de dificuldade que vão encontrar no caminho que seleccionarem e outros dados sobre a história e as características dos locais por onde vão passar. Haverá ainda conselhos sobre o calçado e as roupas a usar e os cuidados com a saúde."

Lurdes Trindade

Fonte: Jornal de Leiria - 4-6-007

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