A Rota do Contrabando é hoje inaugurada em Tourém, Montalegre, no âmbito das Carrilheiras do Barroso. A Rota do Contrabando é um trilho criado no âmbito de um projecto comunitário que recupera os caminhos por onde, clandestinamente, portugueses e galegos faziam trocas comerciais.
Foi comerciante, continua agricultor e, em breve, abraçará uma nova profissão. Aos 85 anos, Bento Barroso Grilo, de Tourém, em Montalegre, vai tornar-se guia turístico. Por um dia, pelo menos. E entre outros, Bento será um dos habitantes da aldeia a quem caberá contar as peripécias à volta do contrabando às cerca de duzentas pessoas que vão estrear a Rota, no âmbito das Carrilheiras do Barroso, uma iniciativa do Ecomuseu do Barroso, que se propõe dar a conhecer o concelho.
Foi comerciante, continua agricultor e, em breve, abraçará uma nova profissão. Aos 85 anos, Bento Barroso Grilo, de Tourém, em Montalegre, vai tornar-se guia turístico. Por um dia, pelo menos. E entre outros, Bento será um dos habitantes da aldeia a quem caberá contar as peripécias à volta do contrabando às cerca de duzentas pessoas que vão estrear a Rota, no âmbito das Carrilheiras do Barroso, uma iniciativa do Ecomuseu do Barroso, que se propõe dar a conhecer o concelho.
Em Tourém, o contrabando era uma prática comum em todas as famílias. No entanto, Bento surge como uma espécie de especialista na matéria, desde o contrabando do volfrâmio, no longínquo ano de 1936, até ao café, ao azeite, ou ao bacalhau, realidades mais recentes.
Ontem, por "simpatia", largou a enxada com que sachava batatas e percorreu parte da rota com o JN. As histórias sucederam-se. "Às vezes, tínhamos de atirar com os sacos e botarmo-nos ao chão. Os nossos guardas não atiravam, mas os espanhóis disparavam!", recorda, lembrando ainda que os fiscais do lado de lá também não se ensaiavam nada para dar umas "hóstias [bofetadas]". "Felizmente, a mim nunca me bateram!", regozija-se.
Bento não esquece também que foi por Tourém que passaram as primeiras máquinas de jogo do Casino da Póvoa. "Vinham numas caixas que pareciam urnas e pesavam para aí uns 200 quilos. Vieram do Norte da América para Barcelona e daí para Ourense. Nós fomos buscá-las com um tractor a Vilarinho (parte galega)", recorda.
Bento não esquece também que foi por Tourém que passaram as primeiras máquinas de jogo do Casino da Póvoa. "Vinham numas caixas que pareciam urnas e pesavam para aí uns 200 quilos. Vieram do Norte da América para Barcelona e daí para Ourense. Nós fomos buscá-las com um tractor a Vilarinho (parte galega)", recorda.
José Alves, outro potencial guia turístico, é mais novo que Bento, mas nem por isso lhe faltam histórias para contar. "Um dia, por quatro litros de vinho, fizeram-me pagar 400 escudos. Hoje, dava para comprar um vitelo!", diz, acrescentando "E as mulheres que levavam ovos nas tetas para trazer azeite? O pior era que os guardas desconfiavam e com uma bengala batiam-lhe nos peitos. Era só gemas a escorrer pelas pernas!", lembra, para rematar: "Eu cada vez que passo por aqueles caminhos e me lembro do que passámos e que agora se passa livremente parece que nem acredito!".
A Rota do Contrabando de Tourém é a primeira de um conjunto de trilhos que estão a ser criados no âmbito de um projecto que envolve também a Câmara Municipal de Chaves, a Associação de Desenvolvimento do Alto Tâmega (ADRAT) e outras entidades do lado de lá da fronteira. Tem financiamento do Interreg e é mais uma medida de apoio ao desenvolvimento local e sustentável. Ao atrair turistas, como defende David Teixeira, do Ecomuseu do Barroso, está meio caminho andado para a dinamização da venda dos produtos da região, que poderá complementar os rendimentos das famílias. Além da sinalização dos percursos, o projecto prevê também a colocação de painéis informativos, bem como a elaboração de material informativo sobre o tema."
Fonte: Jornal de Notícías - 3-6-007
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