sábado, junho 02, 2007

“Rota dos Moinhos do Vouga - Por Terras de Aquilino”, caminhada em Sernancelhe, pela Associação para a Defesa do Vale do Bestança, dia 26 de Maio

"Foi pelo sopé da serra da Lapa, no concelho de Sernancelhe, Viseu, por entre caminhos de luxuriante paisagem e moinhos abandonados que, este fim-de- -semana, pela mão da Associação para a Defesa do Vale do Bestança, 60 caminhantes de diversos pontos do país percorreram uma parte do território denominado "Terras do Demo", por onde Aquilino Ribeiro viveu uma parte da sua vida e estudou.

À saída de Sernancelhe, onde o culto da Senhora da Lapa atrai multidões de romeiros e pagadores de promessas, o tempo parece ter parado. Há casas abandonadas, gente idosa, "maisons" de emigrantes que retornam pelo Verão para matar saudades. Mas estes "peregrinos de lugares recônditos e bafejados pela Natureza" nem precisaram de ouvir os acordes de "Adeus, serra da Lapa", de José Afonso, para os sentidos ficarem mais despertos a calcorrear 20 quilómetros por entre veredas, atravessar pequenos riachos e entrar em caminhos por onde Cristo nunca passou. Muitos deles, quase no fim da caminhada, extasiaram-se perante um simples fio de água da nascente do Vouga. "Como é possível um rio caudaloso e enorme partir deste local montanhoso", questiona uma senhora do Porto. Os penhascos de grande porte dão outra beleza ao lugar.

São 10 horas na torre da igreja e os caminhantes ficam sem tempo de ver o presépio da Escola de Machado de Castro. Não há tempo a perder. A meia-dúzia de quilómetros, surgem os moinhos do Vouga, memórias de uma actividade ligada à moagem de milho, trigo e outros cereais. Num deles viveu António Valente, 72 anos. É o resistente do lugar. Aqui vive desde que nasceu e recusa-se a abandonar este vale frondoso feito de afectos "Foi aqui, nesta nesga de terra que criei oito filhos e é por aqui que quero viver até ao resto dos meus dias. Enquanto as pernas deixarem subir e descer a serra fico por cá", contou.

É o único moageiro do Vouga e apesar das encomendas não garantirem o sustento não abandona a actividade "Herdei este lugar dos meus pais.

Custa-me sair daqui. Apesar das duras condições de vida prefiro ficar cá. Por vezes, a solidão é forte, mas estou de bem com Deus e a Natureza", garantiu. No final, há gente cansada, mas feliz "As caminhadas ajudam-nos a conhecer melhor a alma das pessoas e por outro lado, permite-nos ter outra visão do património", resume Isabel Tavares, solicitadora do Porto. "


Manuel Vitorino

Fonte:
Jornal de Notícias - 28-5-007

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